Texto dramático

TU PRA LÁ TU PRA CÁ

Lousada, sujeito de meia-idade; Carolina, mulata gorda.

LOUSADA — Ó Carolina, puseste ao sol a cartola e a sobrecasaca?
CAROLINA — Sim, senho.
LOUSADA — Vai buscá-las.
CAROLINA (trazendo os objetos pedidos) — O senho vai fazê alguma visita de importância?
LOUSADA — Vou à central receber o Pena.
CAROLINA — Que Pena?
LOUSADA — O futuro presidente da República.
CAROLINA — O Senho conhece ele?
L. — Se o conheço! Ora essa! Tratamo-nos por tu! C. — Saia daí, seu Lousada! deixe de prosa!. . . L. — De prosa como? C. — Faz quatro ano que o senho foi à centra recebe o Rodrígue Arve, e também nessa ocasião me disse que tratava ele por tu. . . L. — E então? C. — Ora! naquele dia em que a gente foi nas regata de Botafogo, o Rodrígue Arve passou juntinho de nós. O senho fez uma grande barretada, e ele nem como coisa, e foi passando. Quá! não acredito que o senho trate ele por tu! L. — Estás enganada. O Chico não me viu. Nessas festas não vê ninguém. Além de ser míope, é muito encalistrado. Então quando ouve tocar o hino é uma desgraça! E no momento em que ele passou para entrar no pavilhão, estavam tocando o hino. C. — E o senho por que cumprimentou ele com tanta cerimónia? L. — Não cumprimentei o homem: cumprimentei o presidente da República! C. — Ele viu perfeitamente o senho, e não fez caso. L. — Já te disse que o hino; mas. . . quando não fosse? Esses homens, quando grimpam às altas posições, esquecem-se naturalmente dos amigos pobres. Vê, por exemplo, o. . . o. . . Quem há de ser? Cardoso da botica. Ele e eu tratamo-nos por tu, não é? Pois bem: faze o Cardoso presidente da República, e verás! Se queres conhecer o vilão. . . C. — Sim o Cardoso da botica o senho trata por tu, mas o Rodrígue Arve não. L. — Ó mulher! O Chico e eu no tempo da monarquia, éramos tu para lá tu pra cá! C. — Então o Chico é muito ruim, porque o senho ainda não tem um bom emprego, e não é por não pedir. L. — Olha, talvez ele não me servisse justamente por sermos íntimos. Os amigos do chefe do Estado estão sempre de mau partido, porque com os amigos não há cerimônias, e são eles os sacrificados. Se eu não tivesse tanta familiaridade com o presidente da República, a estas horas estaria bem colocado! C — Nesse caso o senho não arranja nada também com o Pena. L. — Por quê? C. — Pois não trata ele por tu? L. — É certo; mas não há regra sem exceção. Deixa estar que logo, quando ele saltar do trem, hei de achar meio de lhe segredar ao ouvido: "Afonso, meu velho, não te esqueças de mim..."

Trecho de um texto dramático

O Auto da Compadecida
Ariano Suassuna/Adaptação: Renata Kamla

          Chicó e João Grilo estão na frente da igreja de padre João, querem convencê-lo a benzer o cachorro de sua patroa, a mulher do padeiro.
          CHICÓ  Padre João!
          JOÃO GRILO — Padre João! Padre João!
          PADRE (aparecendo na frente da igreja) — Que há? Que gritaria é essa?
          CHICÓ — Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer um cachorro para o senhor benzer.
          PADRE — Para eu benzer?
          CHICÓ — Sim.
          PADRE (Com desprezo) — Um cachorro?
          CHICÓ — Sim.
          PADRE — Que maluquice! Que besteira!
          JOÃO GRILO — Cansei de dizer a ele que o senhor não benzia.
          PADRE — Não benzo de jeito nenhum.
          CHICÓ — Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.
          JOÃO GRILO — No dia em que chegou o motor novo do major Antônio Morais o senhor não benzeu?
          PADRE — Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca ouvi falar.
          CHICÓ — Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
          PADRE — É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor é fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
          JOÃO GRILO — É, Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer o motor do major Antônio Morais e outra benzer o cachorro do major Antônio Morais.
          PADRE — Como?
          JOÃO GRILO — Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do major Antônio Morais.
          PADRE — E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antônio Morais?
          JOÃO GRILO — É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangasse.
          PADRE (desfazendo-se em risos) — Zangar nada, João! Falei por falar, mas também vocês não tinham dito de quem era o cachorro!
          JOÃO GRILO — Quer dizer que benze, não é?
          PADRE — Não vejo mal nenhum em se abençoar as criaturas de Deus.
          JOÃO GRILO — Então fica tudo na paz do Senhor, com cachorro benzido e todo mundo fica satisfeito.
          PADRE — Digam ao major que venha. Eu estou esperando. (Entra na igreja).

Arara-azul está aumentando


Paulo Jares/Editora Abril

          O Centro de Pesquisas para a Conservação das Aves Silvestres do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) informou que a população de arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) está aumentando no sertão da Bahia. Um censo realizado no local, na região de Raso da Catarina, constatou que em dois anos o número de araras da espécie passou de 160 para 246 indivíduos.

          O sertão baiano, próximo aos municípios de Canudos, Euclides da Cunha e Jeremoabo, é o único lugar do mundo onde se encontra a arara-azul-de-lear. Os dados obtidos pelo estudo animaram os especialistas, já que a espécie é uma das mais ameaçadas de extinção no Brasil.

          O Ibama instalou na área uma base de fiscalização e conta com o envolvimento da população do local na preservação das araras.

          Há anos a espécie vem sendo dizimada pelo traficantes de animais silvestres que lucram com a venda de ovos, filhotes e de aves adultas para colecionadores. A degradação, responsável pela diminuição do licuri, palmeira que oferece o principal alimento às araras-azuis-de-lear, também é um dos fatores para a extinção da espécie.

(Ecologia e Desenvolvimento, Rio de Janeiro, Terceiro Milênio, ano 11, n. 95, p. 4, set. 2001.)

Argumentar em situações difíceis

Philippe Breton. Argumentar em situações difíceis. Barueri: Manole, 2005.

          O que é uma “situação difícil?” Em geral é uma situação que se caracteriza pela violência indesejada que carrega. Apesar de inúmeros progressos realizados com relação a essa questão, a violência continua enraizada no cerne de nossas vidas diárias. […]

          Diante de uma situação difícil, de uma violência que atravessa nosso caminho, temos apenas três opções à nossa disposição:

          → recorrer à violência;

          → fugir;

          → tomar a palavra, tentar argumentar a fim de defender nossas posições e, ao mesmo tempo, pacificar a situação.

PARA SABER MAIS!

A notícia é um dos principais tipos de textos jornalísticos existentes e tem como intenção informar acerca de determinada ocorrência. Trata-se de um texto bastante recorrente nos meios de comunicação em geral, seja na televisão, em sites pela internet ou impresso em jornais ou revistas. Caracteriza-se por apresentar uma linguagem simples, clara, objetiva e precisa, pautando-se no relato de fatos que interessam ao público em geral.

A notícia online é um texto multimodal, isto é, constituído por elementos verbais (texto escrito) e não verbais (visuais) (imagens estáticas ou em movimento, gráficos, infográficos etc.).

Blocos hipertextuais (o hipertexto são os nós que ligam palavras, textos, imagens etc.) e hipermidiáticos (recursos audiovisuais, como os vídeos, por exemplo) compõem a notícia online e possibilitam ao leitor mais flexibilidade e autonomia, já que ele pode escolher diferentes percursos de leitura, a fim de desenvolver uma melhor compreensão dos fatos noticiados.

Elementos constituintes do texto notícia:

Manchete ou título principal – Geralmente é grafado de forma bastante evidente, com o objetivo de chamar a atenção do leitor.

Título auxiliar (Linha fina) – Serve como um complemento do título principal, com o acréscimo de algumas informações, a fim de torná-lo ainda mais chamativo ao leitor.

Lide (lead) – Corresponde ao primeiro parágrafo e nele são expostas as informações que mais despertam a atenção do leitor para continuar com a leitura do texto. Busca responder às questões: Quem? Onde? O quê? Como? Quando? Por quê? Esta estratégia é bastante utilizada em jornais devido ao seu caráter informativo e pode levar informações rápidas e claras ao leitor.

Corpo da notícia – Trata-se da informação propriamente dita, com a exposição mais detalhada dos acontecimentos mencionados. Após trazer as informações mais importantes no primeiro parágrafo, os parágrafos seguintes apresentam os outros acontecimentos sempre em ordem decrescente de relevância. As informações realmente necessárias para o entendimento dos fatos – tais como as personagens, o espaço e o tempo – são priorizadas.

Outras informações com detalhes mais importantes vêm logo em seguida, como a causa do acontecimento, o desenrolar dos fatos e as consequências do mesmo. Tais informações já são mencionadas no lead, no entanto, elas são apresentadas novamente com mais detalhes. Em uma notícia, os eventos são apresentados pelo interesse na perspectiva de quem conta e pelo que o leitor pode considerar mais importante.

Veracidade dos fatos e impessoalidade

A notícia é um relato de uma série de fatos verídicos e não deve, de maneira alguma, apresentar informações incertas ou mentirosas. O texto deve ser o mais impessoal possível, contando com informações concretas que podem ser comprovadas através de entrevistas com testemunhas e/ou especialistas, fotos ou filmagens. Tais detalhes asseguram ao leitor a veracidade dos fatos. A linguagem jornalística deve prezar pela imparcialidade, neutralidade sobre aquilo que relata. Para alcançar o objetivo, há o privilégio do uso de terceira pessoa e dos verbos no modo indicativo, ausência de enunciados de opinião e não uso de adjetivos que possam dar impressão de subjetividade. A linguagem do jornal é, de preferência, coloquial, isto é, mais próxima à maneira como falamos. Isto ocorre intencionalmente, pois o objetivo é se aproximar e se adequar ao leitor, buscando uma comunicação mais eficiente.